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ESPETÁCULOS

Memórias de um Cão

Parte do estudo da obra de Machado de Assis para propor uma abordagem crítica das relações sociais.

Memórias de um Cão

Memórias de um Cão é um espetáculo teatral que parte do estudo da obra de Machado de Assis para propor uma abordagem crítica das estratégias de dissimulação, engodo e auto-engano que marcam no campo subjetivo e político as relações sociais do Brasil.

Narra a trajetória de ascensão e queda de Rubião, um mestre-escola interiorano que, às vésperas da abolição da escravatura, se muda para a Corte, após receber uma herança de seu benfeitor, Quincas Borba, um típico escravocrata, autodenominado filósofo, que ocupa seus dias ociosos de proprietário e rentista com especulações amalucadas sobre a “natureza humana”.

Como condição para usufruir a herança, o recém endinheirado deve cuidar do cão Quincas Borba, que tem o mesmo nome de seu benfeitor. Essa exigência testamentária, uma variante do pacto fáustico, traduz na prática as determinações do “Humanitismo”, espécie de doutrina heterodoxa criada por Quincas Borba, cujo princípio pode ser sintetizado na máxima “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.

Tornado capitalista da noite para o dia, Rubião irá flanar pelas ruas elegantes de um Rio de Janeiro em processo vertiginoso de modernização, buscando inserir-se num círculo de relações de favor, marcadas pelo preconceito de classe e pela futilidade de um mundo apartado do trabalho.

Enquanto torra o dinheiro da herança, o mestre-escola experimenta uma vida de luxos e compensações imaginárias a tal ponto irreais que pensa ser o próprio Imperador francês Napoleão III, numa clara alusão às pretensões da elite brasileira de tornar o Brasil uma nação do primeiro mundo, com a importação de um liberalismo fora do lugar e vistas grossas ao tráfico de escravos.

A partir da leitura do romance Quincas Borba, o Coletivo Alfenim propõe uma alegoria tragicômica da desfaçatez com que a elite econômica e cultural brasileira tenta isentar-se de sua responsabilidade histórica pela barbárie que marca o processo de modernização do país.

Pautando-se pela ironia contida nessa espécie de anti-romance modelar, o espetáculo procura expor as contradições de uma sociedade em formação que almeja reconhecer-se no espelho da modernidade, sem abrir mão de prerrogativas de classe como a exploração da mão de obra escrava, a espoliação do incipiente trabalho livre e a apropriação da riqueza nacional por parte de sua elite econômica, a partir da instrumentalização das instâncias do poder público, numa nação recém saída da condição de colônia portuguesa. E o faz tendo em mente que as semelhanças com a atualidade não são mera coincidência. 

FICHA TÉCNICA

Elenco: Adriano Cabral, Lara Torrezan, Paula Coelho, Ricardo Canella, Verônica Sousa, Vítor Blam, Zezita Matos

Músicos: Mayra Ferreira, Nuriey Castro

Direção Geral e Dramaturgia: Márcio Marciano

Direção de Arte e Figurino: Patrícia Brandstatter

Produção Executiva: Gabriela Arruda