Baseado na leitura de “Minha vida de menina”, diário de Helena Morley _ Alice Caldeira Brandt.
Baseado na leitura de “Minha vida de menina”, diário de Helena Morley _ Alice Caldeira Brandt.
APRESENTAÇÃO
Márcio Marciano
“Helenas” marca o início de uma nova fase na pesquisa do Coletivo de Teatro Alfenim. Sem prejuízo dos pressupostos teóricos e políticos que pautam o projeto artístico do grupo, voltado para o debate das contradições da formação social brasileira, com ênfase na perspectiva popular e no enfrentamento de classes, o espetáculo nasce do desejo de mudança dos procedimentos em sala de ensaio com vistas à radicalização da experiência colaborativa, de modo a estimular a busca permanente de autonomia intelectual e artística de seus integrantes no diálogo com a sociedade.
Essa mudança de procedimentos na sala de ensaios se reflete desde a prosaica, mas não menos importante atitude de cuidado com a manutenção do ambiente de trabalho, até o enfrentamento de temas que se politizam à medida que convocam para o mesmo campo do embate estético a matéria histórica e a experiência pessoal, resultando daí uma cena a um só tempo terna e controversa, contaminada de afetos e forte teor político.
Reflete-se também no modo de produção da cena, já que, pela primeira vez em doze anos de existência, o Coletivo de Teatro Alfenim pesquisa e produz um espetáculo sem qualquer tipo de apoio ou verba de patrocínio, situação emblemática do descalabro com que neste país a Arte e a Cultura são tratadas pelo Poder Público nos dias que correm.
Mas, sobretudo, “Helenas” promove uma renovação nos quadros de colaboradores do Coletivo Alfenim, com a entrada de novos pares, o retorno de companheiros de outras viagens e a permanência de integrantes das formações anteriores. Nessa perspectiva, pela primeira vez no Coletivo atuo exclusivamente como dramaturgo, ficando a direção do espetáculo sob responsabilidade da atriz e diretora Paula Coelho, que assume essa desafiadora e necessária incumbência.
HELENAS (ou uma lição de encantamento e poesia)
Paula Coelho
Helenas nasceu da leitura de “Minha vida de menina”, diário de Helena Morley, pseudônimo de Alice Caldeira Brandt, uma mocinha mineira, que viveu em Diamantina em fins do século XIX. Os acontecimentos e impressões registrados pela menina entre seus treze e quinze anos, que vão de 1893 a 1895, cobrem um período marcante da história do Brasil.
A argúcia de Helena ao descrever uma sociedade provinciana em um momento de transição entre a decadência econômica do extrativismo de diamantes e a formação de inéditas relações de trabalho, numa sociedade urbana pós-libertação dos escravos transforma o despretensioso caderno de anotações de Helena em um dos mais ricos e impressionantes testemunhos de uma época.
Porém, o mais surpreendente, é que suas páginas têm o poder de nos revelar não apenas um passado brasileiro que nos parece muito próximo, através do relato de prosaicos incidentes da infância de Helena, de sua vida escolar e em família. Mas, sobretudo, por descortinar com rara perspicácia e sutileza os percalços que marcam em nossas vidas a passagem da meninice para a adolescência, o que confere ao diário extrema atualidade.
HELENAS
Ficha Técnica
Elenco:
Joseph Cavalcante, Mayra Ferreira, Murilo Franco, Vítor Blam
Cenografia e figurinos:
Maria Botelho
Painel de fundo:
Giga Brow
Iluminação:
Ronaldo Costa
Design Gráfico:
Patrícia Brandstatter
Preparação vocal:
Mayra Ferreira
Oficina de preparação corporal:
Dudu Galvão
Costureiras:
Maria Célia dos Santos
Rosângela Pereira Freitas
Pesquisa e composição musical:
Joseph Cavalcante, Márcio Marciano, Mayra Ferreira, Murilo Franco, Paula Coelho e Vítor Blam
Dramaturgia:
Márcio Marciano
Direção:
Paula Coelho
Produção executiva:
Gabriela Arruda
Administração:
Adriano Cabral
Realização
Coletivo de Teatro Alfenim
Com base na aposta da dramaturgia de buscar inspiração na poesia de João Cabral de Melo Neto, com ênfase em sua “Educação pela Pedra”, a encenação escolheu quatro grandes temas norteadores para demarcar o processo de formação do indivíduo Helena.
São eles: “A educação pelo trabalho”, “A educação pelo estômago”, “A educação pela fé” e “A educação pelo sexo”. Como não se trata de uma tese, mas de um espetáculo teatral, naturalmente esses elementos serviram de estímulo para a construção do jogo teatral, de maneira que ao fim e ao cabo o que vemos em cena são momentos de encantamento e poesia de uma menina-moça diante das descobertas da vida.