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ESPETÁCULOS

A Causa Secreta

Livremente inspirada no conto homônima de Machado de Assis. Explora as regiões sombrias do comportamento humano.

A Causa Secreta

A CAUSA SECRETA é livremente inspirada no conto homônimo de Machado de Assis. A dramaturgia elege uma das mais sombrias narrativas do autor carioca com o interesse de levar à cena uma reflexão sobre o sadismo, afecção que secretamente se infiltra nas relações sociais de modo a transformar o “outro” em objeto de dominação e gozo hedonista. A montagem explora as regiões obscuras e inexplicáveis do comportamento humano para denunciar a opressão de gênero que assola a sociedade brasileira.  

A partir de um insólito triângulo amoroso entre um médico, uma mulher em estado terminal e seu marido – obcecado por experimentos científicos em torno da anatomia dos seres vivos – a peça investiga os limites éticos da ciência e do conhecimento. 

Para construir o universo da narrativa machadiana, a montagem se utiliza de elementos do “Teatro de Variedades”, popular em fins do século XIX. Recorrendo a cenas que se constituem como “atrações” de uma fictícia “Companhia São Januário de Extravagâncias”, a peça discute em chave burlesca o desrespeito à ética e à verdade objetiva, bem como a construção de realidades paralelas que pautam as relações de dominação na atualidade brasileira, com ênfase à condição histórica de subalternidade do gênero feminino.

Para fugir à armadilha da reprodução pretensamente fiel ao ambiente da sociedade carioca em fins do século XIX, baseado num naturalismo de corte dramático e ilusionista, que se apresenta como realista, mas que não logra constituir-se como “sugestão do real”, a dramaturgia segue uma indicação do próprio Machado, que dialoga com os contos fantásticos de Hoffmann e Edgar Alan Poe, sem perder de vcista as referências ao universo shakespeariano, tão recorrente em sua obra.

No conto, Machado dá notícia de um teatro de reputação duvidosa, localizado nas franjas da cidade, em São Januário. Esta referência pauta a encenação, que cria uma fictícia “Companhia São Januário de Extravagâncias”. É essa trupe de teatro de variedades que encena a história narrada no conto. 

O recuo para o interior da maquinaria teatral permite à encenação operar as cenas como números de um roteiro de extravagâncias. Uma solução no campo alegórico para falar das perversões que intoxicam as relações sociais na atualidade. Desta forma, a encenação reproduz o programa de uma noite de variedades, oferecendo ao público números de “escapismo”, de “atirador de facas” e de “desaparição”, entremeados por cenas que narram a história. 

Como forma de colocar em primeiro plano a discussão sobre a opressão de gênero numa sociedade patriarcal, a dramaturgia faz referência a poemas de Cecília Meireles e Pagu, duas autoras brasileiras que expressam em sua obra o inconformismo com a desigualdade entre homens e mulheres.  

Também se vale de uma cena da tragédia Titus Andronicus, de Shakespeare, que é apresentada como atração principal do teatro de variedades. Para intensificar o caráter burlesco da encenação, a cena é representada no gênero “Grand Guignol”, sendo o sangue dos membros decepados da figura shakespeariana sugerido com veludo e fitas de cetim vermelho.  

A cenografia, a iluminação e os figurinos operam pelo método da figuração metonímica, insinuando o todo pela economia dos elementos. Há, deliberadamente, a pista falsa de uma riqueza ostensiva, porém em decomposição. Algo que remete ao projeto de modernidade brasileira que sempre se interrompe no ato da destruição, sem dar o passo adiante. No espetáculo, assim como no conto, o gênero feminino é o epicentro do temor. Essa incompreensão, que parece se alastrar na sociedade contemporânea, é o tema central da encenação.   

Como nos demais trabalhos do Alfenim, subvertemos a forma original de nossas fontes de estudo sem trair o seu conteúdo. Assim como no conto de Machado, o triângulo amoroso é mero pretexto para narrar o que está por trás das convenções sociais. Trata-se, em resumo, de refletir sobre a perversão que preside as relações de dominação presentes em nossa sociedade, e que se manifestam não apenas no âmbito das relações públicas, mas também no cotidiano das relações privadas.  

A trilha original utiliza bases previamente compostas e momentos de improvisação, sendo que o músico em cena realiza a combinação dessa trilha pré-gravada com a execução ao vivo de diversos instrumentos musicais como clarinete, percussão, teclado, berimbau, rabeca etc. 

A experiência com a obra de Machado não é inédita no Coletivo Alfenim. Em 2015, o grupo partiu do estudo do romance Quincas Borba para a montagem de Memórias de um cão, espetáculo que circulou por diversas cidades do país em festivais e mostras, realizando temporada em São Paulo, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, entre outras, totalizando quase 100 apresentações.

Sinopse:

A montagem explora as regiões sombrias e inexplicáveis do comportamento humano. A partir de um insólito triângulo amoroso entre um médico, uma mulher em estado terminal e seu marido (obcecado por experimentos científicos em torno da anatomia dos seres vivos), a peça investiga os limites da ciência e do conhecimento. Para construir o universo da narrativa machadiana, a montagem se utiliza de elementos do “Teatro de Variedades”, popular em fins do século XIX. Através de cenas que se constituem como “atrações” de uma fictícia “Companhia São Januário de Extravagâncias”, a peça discute em chave grotesca o desrespeito à ética e à verdade objetiva, bem como a construção de realidades paralelas que pautam as relações de dominação na atualidade brasileira.

Ficha técnica do experimento A CAUSA SECRETA:

Elenco: Adriano Cabral, Edson Albuquerque, Murilo Franco e Paula Coelho

Trilha original e execução ao vivo: Kevin Melo

Figurinos e adereços: João Marcelino 

Iluminação: Ronaldo Costa

Cenografia e cenotécnica: Márcio Marciano

Máscaras: Andrea Oliveira 

Pintura de arte do tapete e frontispício: Irapuan Júnior

Arte do cartaz e programa: Cecília Coelho Marciano

Assistente de figurino: Murilo Franco

Assistente de adereçagem: Vittor Blam

Maquiagem: Coletivo Alfenim 

Costura: Deuza M&D Ateliê e Maria José M3 ateliê

Comunicação: Lara Torrezan

Produção de conteúdo para mídia social: Edson Albuquerque, Kevin Melo e Murilo Franco 

Produção – Gabriela Arruda 

Dramaturgia e direção – Márcio Marciano 

Apoio – Nem lei, nem deus