Considerações sobre as Brevidades, do Coletivo de Teatro Alfenim, por Alexandre Villibor Flory (UEM)
Brevidades, Madeleines e Alfenins: história e representação artística
Não é nada fácil fazer um comentário sobre Brevidades, espetáculo do Coletivo de Teatro Alfenim que se apresentou em novembro de 2013 em Maringá. Embora texto e encenação sejam curtos, há muita coisa em jogo, em cada nuance do texto ou no tom e textura da voz da atriz Zezita Matos, que interpreta Eleusa. São fragmentos de vida que atualizam séculos de história social e estética, num nível raramente alcançado. Desde que li o título da peça, ‘Brevidades’, fui imediatamente remetido a um lugar da memória que guardava uma espécie de bolinho feito de polvilho doce, curiosamente chamado de Brevidade, uma delícia com café. E, nessas horas, uma coisa puxa outra, não me contive e se impôs outra associação: o bolinho Brevidade ressoava na minha memória literária como uma espécie de madeleine proustiana. De certa forma, a concepção de história e de fazer literário de Proust respingava e fomentava minhas expectativas a respeito da peça. Sabia, por alto, que se tratava de uma mulher idosa, com Ahzheimer, que revisitava suas memórias e as embaçava com o presente, tão fugidio e fecundo à sensibilidade do idoso. Com isso, estava claro que o modo como essa narração se daria importava tanto quanto o conteúdo dela, pois a representação da memória pede uma posição sobre o passado. Tendo em vista o cenário contemporâneo, em que há uma espécie de culto à juventude e a um presente eternizado, materializado na idolatria do mundo virtual e nas plásticas mumificadoras que criam máscaras de felicidade, o passado é desprezado, e a rememoração considerada uma atividade arcaica. Esse mundo ainda tem lugar para uma madeleine mergulhada no chá, com um passado ressignificando o presente e a noção de futuro? [Leia mais…]