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Coletivo teatral que trabalha na criação de uma dramaturgia própria com base em assuntos brasileiros, interessado na formação de plateias a partir de eventos paralelos às montagens como seminários, oficinas e debates abertos sobre os temas abordados na pesquisa.
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O presente trabalho pretende discutir alguns procedimentos artísticos desenvolvidos pelo Coletivo de Teatro Alfenim, na Paraíba, na peça Milagre Brasileiro, com estreia em 2010. Para isso, faremos considerações sobre como a peça mencionada formaliza um momento conturbado da história nacional, a partir de uma concepção materialista de história. No início o século 21, estamos em um momento de intensa discussão no Brasil a respeito da lei e Anistia de 1979, ainda não abordada tanto histórica quanto esteticamente de modo contundente – um símbolo disso é a negação do pedido de sua revisão feito recentemente, em 2010, pelo STF. Uma rápida comparação nos faz ver com clareza a distância dessa posição reacionários e negacionista em relação aos nossos vizinhos sul-americanos como Chile, Argentina e Uruguai, países nos quais os responsáveis foram devidamente julgados.
Pode parecer estranho que comecemos um artigo sobre teatro com uma breve apresentação da conjuntura histórica, mas isso é proposital. Isso porque nos interessa discutir um grupo que faz da mediação entre teatro e sociedade o seu ponto de partida e de chegada, para uma revisitação crítica tanto da nossa história quanto das formas teatrais, a partir de uma perspectiva materialista, que procura compreender as práticas sociais e estéticas como discursos com pronunciada carga ideológica, permitindo a exposição dos pressupostos que os sustentam e que podem ser mudados. Grupos como o Alfenim adotam uma perspectiva que se aproxima da concepção benjaminiana da história, colocando-se na posição do materialista histórico interessado em juntar os destroços e dar sentido ao passado a partir das catástrofes contemporâneas, sendo uma delas nossa incapacidade de aceitar e elaborar nosso passado histórico, por conta de um discurso dominante obtuso e violento.
Esse projeto de arte engajada, que não se furta da discussão sobre a inovação estética para uma arte popular e não se deixa levar por palavras de ordem fáceis e sectárias, pode ser acompanhado no teatro épico brasileiro nos últimos anos com clareza. Basta lembrar de peças como Ópera dos vivos, da Cia. do Latão, Morro como um país, da Kiwi, Viúvas – Performance sobre a ausência, do Ói nóis aqui traveiz, Três movimentos, da Cia Ocamorana, Armadilhas Brasileiras, da Cia do Feijão, além de Milagre Brasileiro, par citar apenas algumas, que procuram entender o Brasil e os pressupostos de nosso atraso, de nossa modernização conservadora e da “dialética rarefeita entre o não-ser e o ser outro” (Gomes apud Pasta, 2010, p.15 ) que marca nossa formação subjetiva volúvel e sem – cárater, sem deixar de pisar o chão histórico. [Leia mais…]
MACHADO DE ASSIS VAI AO TEATRO
MEMÓRIAS DE UM CÃO, DO COLETIVO ALFENIM, LEVA AO PALCO O HUMANITISMO DE QUINCAS BORBA
Expedito Ferraz Jr.*
expeditoferrazjr@gmail.com
Teatro e narrativa miram-se todo o tempo na obra de Machado de Assis. Se a dramaturgia, propriamente dita, nunca alcançou, em sua produção, a genialidade dos melhores contos e romances, não é raro encontrarmos nesses últimos alusões a clássicos do gênero dramático com os quais dialogam seus enredos e nos quais se espelham, por vezes, o comportamento de suas personagens. Assim vemos Otelo citado em Dom Casmurro; Hamlet, em “A cartomante”; Macbeth, em Memórias Póstumas de Brás Cubas (para ficarmos apenas com essas três referências, shakespearianas, dos exemplos que me ocorrem). Na trama de intertextos que dá forma ao estilo machadiano, obras-primas desse gênero são referidas e revisitadas com frequência, muitas vezes em tom de paródia. E não menos frequentes são as passagens de suas histórias em que o teatro se materializa como espaço físico representado no cenário urbano, investindo-se de um significado social marcante no modo de vida oitocentista e cortesão ali retratado.
Uma vez provocada por essas referências, não estranha que a imaginação do leitor se anime a projetar o movimento inverso: o de transpor elementos do romance machadiano para o contexto da linguagem dramática. É essa a aventura em que se (e nos) lança o Coletivo de Teatro Alfenim, de João Pessoa, em Memórias de um Cão, que estreou em maio deste ano de 2015. O espetáculo integra um projeto chamado “Figurações brasileiras” e nasce de um interessante trabalho de pesquisa iniciado em 2014, com um seminário intitulado “A atualidade de Machado de Assis”. Pois é justamente disso que se trata: de atualidade, porque esta é a impressão que nos causa a experiência de revisitar o pensamento de Machado hoje e de refletir, com ele, sobre as contradições que definem nossa formação social, uma mirada sempre reveladora e inquietante. Tanto mais se essa releitura nos permite observar ainda outra forma de atualização: a da transposição de mídias – vale dizer: a tradução, neste caso para a linguagem cênica, do mais agudo tradutor de nossas mazelas sociais. É sobre esse processo de transposição e seus efeitos que vamos nos deter brevemente nos parágrafos que seguem.
Para ler o texto na íntegra, acesse: MACHADO-DE-ASSIS-VAI-AO-TEATRO
* Expedito Ferraz Jr é professor adjunto da Universidade Federal da Paraíba. Tem experiência na área de Letras , com ênfase em Literatura Brasileira. Atuando principalmente nos seguintes temas: Literatura Brasileira, Poesia, Semiótica.
Na edição de abril/2015 da revista do Instituto de Estudos Brasileiros – IEB, o professor e pesquisador Roberto Efrem Filho* faz uma análise do espetáculo O Deus da Fortuna, do Coletivo de Teatro Alfenim, explicitando as relações de classe, gênero e sexualidade presentes na peça e a maneira como as representações das relações sociais intervêm como estratégias do encontro com o “humano”. Abaixo, segue o texto. O Coletivo Alfenim aproveita para anunciar a estreia do espetáculo inédito “Memórias de um cão”, em maio de 2015 na sede do Coletivo, Casa Amarela, no centro de João Pessoa. Em breve, mais informações!
Lâminas de Corte: sobre três estratégias para o encontro com o “humano” – Roberto Efrem Filho
Talvez as mais importantes contribuições intelectuais à compreensão da realidade em que um tempo se refaz (e que por ele é refeita) sejam aquelas tão maleáveis quanto afiadas. São interpretações do mundo capazes de penetrar as mais ermas searas, os mais intricados espaços, contorcendo-se, se necessário, reinventando-se. Walter Benjamin foi autor de contribuições assim. Enquanto os intelectuais de seu tempo definhavam desesperançosos diante do terror da sociedade capitalista que eles desvendavam – e que, de fato, era bastante assustadora, com seus nazismos, esteiras produtivas e surras no Pato Donald – Benjamin transitava com lâminas nesses terrenos cruéis. Lá, entre todas as tiranias, com gestos de coragem e ousadia, ele alcançava o espaço-tempo em que os oprimidos, apesar de tudo o que os nega e por isso mesmo, afirmam-se e nos permitem alguma esperança.
(…)
Leia o texto na íntegra no site da revista IEL: http://bit.ly/1Hty5yO
* ROBERTO EFREM FILHO: Professor do Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Federal da Paraíba e doutorando em Ciências Sociais junto ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. E-mail: robertoefremfilho@gmail.com
Considerações sobre as Brevidades, do Coletivo de Teatro Alfenim, por Alexandre Villibor Flory (UEM)
Brevidades, Madeleines e Alfenins: história e representação artística
Não é nada fácil fazer um comentário sobre Brevidades, espetáculo do Coletivo de Teatro Alfenim que se apresentou em novembro de 2013 em Maringá. Embora texto e encenação sejam curtos, há muita coisa em jogo, em cada nuance do texto ou no tom e textura da voz da atriz Zezita Matos, que interpreta Eleusa. São fragmentos de vida que atualizam séculos de história social e estética, num nível raramente alcançado. Desde que li o título da peça, ‘Brevidades’, fui imediatamente remetido a um lugar da memória que guardava uma espécie de bolinho feito de polvilho doce, curiosamente chamado de Brevidade, uma delícia com café. E, nessas horas, uma coisa puxa outra, não me contive e se impôs outra associação: o bolinho Brevidade ressoava na minha memória literária como uma espécie de madeleine proustiana. De certa forma, a concepção de história e de fazer literário de Proust respingava e fomentava minhas expectativas a respeito da peça. Sabia, por alto, que se tratava de uma mulher idosa, com Ahzheimer, que revisitava suas memórias e as embaçava com o presente, tão fugidio e fecundo à sensibilidade do idoso. Com isso, estava claro que o modo como essa narração se daria importava tanto quanto o conteúdo dela, pois a representação da memória pede uma posição sobre o passado. Tendo em vista o cenário contemporâneo, em que há uma espécie de culto à juventude e a um presente eternizado, materializado na idolatria do mundo virtual e nas plásticas mumificadoras que criam máscaras de felicidade, o passado é desprezado, e a rememoração considerada uma atividade arcaica. Esse mundo ainda tem lugar para uma madeleine mergulhada no chá, com um passado ressignificando o presente e a noção de futuro? [Leia mais…]
Texto crítico, na íntegra, escrito pela historiadora Regina Behar sobre Brevidades
Entramos no cenário e nos acomodamos no quarto de Eleusa. Ela aguarda. No meio da arena uma pequena cama, uma mesa redonda, uma penteadeira. Eleusa saboreia seu chá como se não nos visse. Depois olha em volta, pequenos goles, oferece biscoitos e começa o monólogo. Fala dos tempos áureos nos quais o chá era servido em grande estilo, com “biscoitos de nata, pães de minutos… as brevidades”. Rememora o tempo passado e percebe o choque do presente: o lugar não é nomeado, mas, é lá que descartam os alienados. Renega sua vida ali, onde pessoas sem consciência vagam sem saber quem são. O tempo passa e eles pioram, afirma Eleusa, ficam sem modos, agressivos, não se lembram de qualquer regra de etiqueta, e nem sequer de higiene. Aquele não é seu lugar. Ela despreza aquela gente e busca nossa cumplicidade.
Texto escrito pelo professor Romero Venâncio sobre o monólogo Brevidades:
“NO SONO FINDAM-SE AS DORES DO CORAÇÃO” OU SOBRE BREVIDADES: NOTAS
“Pois o importante, para o autor que rememora, não é o que ele viveu, mas o tecido de sua rememoração, o trabalho de Penélope da reminiscência” (Walter Benjamin)
Nunca uma frase veio tão em boa hora para definir o mais recente trabalho do Coletivo Alfenim da Paraíba. Falamos aqui da peça/monólogo “Brevidades” (2013) que tem como centro a história de uma atriz impossibilitada de exercer seu oficio por ser acometida do “mal de Alzheimer”. Só no tema já teríamos um desafio hercúleo para uma boa atriz. A velhice perde cada vez mais espaço no teatro, cinema ou televisão ou quando aparece é na forma pitoresca ou tola, próprio da maioria desses meios de comunicação atual. O trabalho de Márcio Marciano vai bem longe do modelo televisivo hegemônico e nos coloca de cara no impacto que representa esta doença que macula a memória de maneira irreversível e convoca-nos a pensar como é possível isto no teatro, arte da memória, por natureza. Mas muito do trabalho de direção deve a marcante atuação da atriz Zezita Matos. Atriz conhecida por filmes fortes na dramaturgia cinematográfica brasileira. Dirigida por Cláudio Assis ou Karin Ainouz, diretores dos mais importantes no cinema atual, Zezita desembarca do palco de “mala e cuia” e nos brinda com momentos de densidade cênica como poucos. [Leia mais…]
Segue na íntegra o texto de apresentação do repertório do Coletivo Alfenim, escrito pelo jornalista, crítico e curador do Centro Cultural de São Paulo, Kil Abreu. A montagem gratuita do repertório do grupo marca o início das ações do projeto Figurações Brasileiras, patrocinado pela Petrobras.
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Entrevista de Márcio Marciano a Ana Lúcia Nunes do Jornal A Nova Democracia (RJ)